Metades – Part two

24 de julho de 2019, 03: 00 da manhã. 

Joguei alguns papéis sobre a mesa; “alguns já estavam lá, é claro”, outros são apenas o resultado de algumas horas tentando decorar uma estrofe de um soneto de Shakespeare. Meu apreço pela leitura desse cara é tão grande, que eu tento decorar o maior número de sonetos possível, para quando eu precisar recitar para mim mesmo, eu já tenho guardado, (risos). 

-Como parar de escrever??

   Perguntei para mim mesmo, enquanto jogava uns livros para fora da escrivaninha, abrir a janela, ao mesmo tempo em que matutava mais algum escrito na cabeça, e procurava uma música na minha playlist… ”Ahh, encontrei uma canção bem legal por lá,(Get You The Moon), é uma canção do Kina em parceria com alguém que canta maravilhosamente.

   A intenção era começar logo a escrever, mas fui levado a ficar debruçado na janela, aliás, a lua me convidava a contemplá-la; convite irrecusável, eu diria, (risos). Narrar uma coisa que você gosta é diferente, o sentimento é único, algumas coisas como o toque, o cheiro e a sensação de ter são insubstituíveis e intransmissíveis.

   Sinto que estamos perdendo um pouco da nossa capacidade de sentir. Sabe, acho que estamos fazendo ruínas de nossa própria existência, tentando encontrar sentido em certas coisas sem sentido, deixando de nos arriscar por algo que pode valer a pena.

     Não correr um risco pelo relacionamento, ter medo de errar por besteiras, transferir a culpa de algo não ter dado certo, isso é uma lástima, cara! uma grande e infortuna lástima.

Algumas pessoas dizem que não existe distância entre o amor e a dor, dizem até que ambos andam na mesma direção; estranho, eu acho.   

Já tentou escapar do amor, Paulo? Perguntou a moça que se despedia de mim, enquanto sorria  empolgantemente.  Seu sorriso harmonizava com o brilho do sol, seu cabelo era negro como a noite escura, seu último abraço foi como se ela quisesse me levar para longe.

-Talvez eu tenha tentado, e é difícil escapar de algo que te mantém vivo. Como se teu corpo quisesse te conduzir. Daí você para e não consegue decidi por vontade própria! Mas e morrer de amor para escapar dele, é possível?

-Sei como é, Paulo. Talvez, morrer de amor seja uma forma de escapar dele. Eu morreria por você, mas e se isso se tornar real, você promete que vai me deitar na terra fria e macia, enquanto me beija com os olhos fechados? Sabe, como se não tivesse doído,  talvez tenha que doer para sabermos que era amor, mas não sei se o amor dói. 

-Foi a última vez que a vi, fiz como havia prometido, tomei-a em meus braços, vaguei por dias com seu fantasma, por meio de pedras, eu podia sentir ela flutuando entre meus braços.  Eu a enterrei em meu próprio coração, próximo à sombra de uma samambaia, no leito de um rio.

-Paulo, talvez o amor tenha que doer. Respondeu a moça, em tom de despedida.

Continua??

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